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É a economia, seu tanso!

Por Anderson Ramos Augusto e Sérgio Luiz da Silva

Publicado em 25/02/2025
É a economia, seu tanso!

Bill Clinton certamente há de agradecer todos os dias o sr. James Carville, responsável por uma frase que, cunhada para motivar e definir o foco do então candidato e de seus estrategistas da campanha à Presidência dos Estados Unidos em 1992, influiu decisivamente em sua vitória: "it’s the economy, stupid!". Em bom português, "é a economia, estúpido!".

Essa frase nunca fez tanto sentido se trazida para o contexto nada animador em que se encontra a economia brasileira em 2025 e, apesar de termos abordado esse tema ao longo dos anos (mais recentemente aqui  e aqui), convém irmos um pouco além na identificação das causas de tamanho desarranjo.

Realmente não há como explicar a situação em termos mais claros: a compulsão do atual governo federal em gastar está levando o País ao colapso — ainda mais agora, em meio à queda vertiginosa de popularidade, especialmente junto aos estratos sociais mais vulneráveis. Esse cenário gera duas consequências inevitáveis e devastadoras: “déficit” e “inflação”. A primeira repercute na incapacidade do Poder Público de atender adequadamente suas obrigações legais, ao passo que a segunda é sentida diariamente por todos nós, quando, por exemplo, vamos ao supermercado, abastecemos nossos veículos ou precisamos de serviços públicos ou privados.

Para tentar aliviar os efeitos da primeira consequência, o governo vem adotando medidas que agravam ainda mais a segunda consequência. Nesse sentido, só há duas maneiras de arrecadar recursos além de aumentar impostos: o governo pode (1) entrar no mercado monetário e tomar empréstimos, competindo com seus próprios cidadãos e aumentando as taxas de juros (o que faz diariamente) ou (2) imprimir dinheiro (o que também faz diariamente). Ambos os métodos são inflacionários.

Ocorre que o termo “inflação” diz menos do que devia. Quando nos deparamos com essa palavra na imprensa ou nos discursos governamentais, isso nos leva a pensar apenas como “preços altos” e a ficar ressentidos com aqueles que colocam os “preços altos” nos produtos e serviços — esquecendo, porém, que essas pessoas também são vítimas da inflação.

É evidente que a inflação não se refere apenas a “preços altos”; é uma redução no valor do nosso dinheiro. Quando a oferta de moeda aumenta em descompasso com os bens e serviços disponíveis no mercado, temos muito dinheiro para poucos bens, consequentemente exercendo pressão inflacionária pela via da demanda.

A saída fácil encontrada pelo governo é, para surpresa de zero pessoas, aumentar os impostos para que não precise tomar empréstimos ou imprimir dinheiro, mas é inegável que ultrapassamos o limite da tolerância ou capacidade de suportar um aumento na carga tributária. Antes se dizia que precisávamos de 4 ou 5 meses por ano para cumprir nossas obrigações fiscais (federais, estaduais e municipais). E agora, querem que fiquemos o ano inteiro aguentando esse fardo?

Para piorar, ainda há quem defenda que a carga tributária seja “transferida” para as empresas e a indústria, ignorando o fato elementar de que os segmentos produtivos repassam seus custos operacionais ao cliente no preço final do produto ou serviço. O fato é um e um só: somente o cidadão paga todos os tributos.

O governo usa o empresariado de forma sorrateira para viabilizar a arrecadação, acusando-os, em um segundo momento, de serem os supostos “responsáveis” pelo aumento dos preços. A população, acreditando na narrativa, faz do empresário o vilão por trás de suas dificuldades, deixando de enxergar o real motivo pelo qual não consegue mais comprar uma verdura, uma peça de carne ou até mesmo um pacote de café.

O real motivo, em conclusão, é que o déficit acumulado do Poder Público é o catalisador da inflação que hoje vivenciamos no Brasil e a relutância do governo federal em entender fundamentos básicos apenas piora o cenário. Como diria um manezinho da Ilha, “é a economia, seu tanso!”.

Anderson Ramos Augusto
Advogado (OAB/SC 23.313), Gerente Jurídico da CDL de Florianópolis e Superintendente Jurídico da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina; processualista civil com área de concentração no Direito do Consumidor

Sérgio Luiz da Silva
Economista e empresário; associado da CDL de Florianópolis; ex-Diretor Financeiro e atual Conselheiro Fiscal da Entidade (gestão 2025-2026)

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