Vacina contra a Covid-19 não deve dar imunidade para a vida toda, dizem pesquisadores
Publicado em 26/08/2020
Vacina contra a Covid-19 não deve dar imunidade para a vida toda, dizem pesquisadores
No entanto, ainda não é possível saber quais as dimensões do impacto dessa descoberta na busca por um imunizante contra a doença
Uma vacina contra a Covid-19 não deve ser capaz de proteger para a vida inteira, afirmam pesquisadores de Hong Kong. No entanto, ainda não é possível saber quais as dimensões do impacto dessa descoberta na busca por um imunizante contra a doença.
Três casos de reinfecção pelo novo coronavírus foram confirmados por cientistas, em Hong Kong, Bélgica e Holanda.
De acordo com a infectologista Ingrid Cotta da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o grande desafio é descobrir fatos novos sobre a Covid-19 ao mesmo tempo em que se tenta desenvolver uma vacina eficaz e segura contra a infecção.
“Estamos diante de uma doença nova e de um vírus novo. É diferente de já conhecer a história natural de uma doença e as regras do jogo”, destaca.
Para confirmar um caso de reinfecção de um paciente, os cientistas devem ser capazes de demonstrar que os códigos do RNA viral no primeiro e no segundo contágio registrado são diferentes um do outro.
Na Bélgica, uma mulher foi reinfectada três meses após a primeira infecção. “Fomos capazes de examinar geneticamente esse vírus em ambos os casos e temos dados suficientes para determinar que se trata de outra estirpe”, afirmou o virologista e conselheiro de saúde do governo Marc Van Ranst.
Ingrid pondera que a questão é saber se essas diferentes linhagens do coronavírus respondem da mesma maneira às vacinas.
Vacina de RNA seria adaptável
Rosana Richtmann, integrante do comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, ressalta que vacinas desenvolvidas a partir do RNA menssageiro são mais adaptáveis a um novo tipo de vírus.
“Em teoria, se funcionar, é mais fácil de adequar ela para um novo vírus do que a do Butantan”, compara. “Seria [necessário] mais um ajuste nesse RNA, já no outro caso teria que fazer uma vacina nova”, acrescenta.
A vacina desenvolvida pela Pfizer é um exemplo de imunizante feito à base de RNA mensageiro. Essa molécula entra na célula e fornece a ela as informações necessárias para a produção de uma das proteínas que compõem o novo coronavírus. Essa proteína será reconhecida como um corpo estranho e assim estimulará a resposta imunológica.
Já a Coronavac, do Instituto Butantan e da empresa chinesa Sinovac Biotech, é feita com o novo coronavírus inativado, isto é, morto a partir de processos físicos e químicos. Assim, o vírus não consegue se replicar, mas faz com que o sistema imunológico reaja e crie os anticorpos necessários.
Fase 3 de testes clínicos é decisiva
Rosana afirma, no entanto, que a confirmação de pacientes com reinfecção pelo coronavírus não deve afetar o desenvolvimento de vacinas.
“A princípio, não vejo grande impacto para a vacina. Primeiro, a gente ainda não sabe nada sobre a eficácia de vacina. Enquanto não acabarem a fase 3 [etapa que comprova se a vacina é realmente eficaz para proteger contra a covid-19], não dá para saber qual será o impacto”, analisa.
“Caso a vacina não consiga dar uma resposta adequada, pode ser um problema no sentido de ter que revacinar anualmente [as pessoas], como acontece com o vírus da gripe”, completa.
Vacina não garante controle imediato da pandemia
Ingrid, por sua vez, ressalta que o imunizante não trará o controle imediato da pandemia mesmo que obtenha sucesso na fase 3. Portanto, ainda será preciso praticar as medidas de prevenção contra o coronavírus.
“O controle não vai acontecer com uma vacina, de um dia para o outro. Vai passar por um combo de ações durante muito tempo, como isolamento e uso de máscara. Até a gente entender o impacto da vacina na população, a partir dos grupos prioritários, vamos ter que adotar essas medidas”, analisa.
Rosana avalia ainda que o novo coronavírus deve se tornar endêmico. Isso significa que ele será detectado com certa frequência em determinada região ou população “com épocas em que ele tem menor e maior circulação”, descreve a médica.
As especialistas concordam que os casos confirmados de reinfecção afastam a ideia de imunidade de rebanho, quando a maior parte das pessoas de uma comunidade já se tornou imune a ao vírus por ter sido infectada e desenvolver imunização natural, o que impede a propagação da doença.
Entretanto, há um aspecto positivo: a possibilidade de reforçar o sistema imune. “Cada vez que eu me exponho ao vírus, o sistema imune produz mais anticorpos, então pode ser positivo”, explica Rosana.
O paciente de Hong Kong, um homem de 33 anos, não apresentou nenhum sintoma de covid-19 após a segunda infecção e a mulher reinfectada na Bélgica tem um quadro leve, sem necessidade de hospitalização, o que poderia indicar esse fortalecimento.
Já o paciente holândes é um idoso com sistema imunológico “debilitado”, segundo especialistas. Mas não foram dados detalhes sobre seus sintomas.
Fonte: ND Mais
Foto: Divulgação/Sinovac Biotech Ltd
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