Coronavírus em SC: Empresas se reinventam para se manter competitivas em meio à pandemia
Publicado em 03/08/2020
Coronavírus em SC: Empresas se reinventam para se manter competitivas em meio à pandemia
Historicamente um povo empreendedor, o catarinense tem buscado formas de se reinventar durante a pandemia de Covid-19. Essa reinvenção passa pelos mais variados aspectos da vida cotidiana: vai desde o aspecto social, com a necessidade do distanciamento para evitar a propagação do vírus, até o mercado corporativo, com a busca de modelos de negócio que se adaptem à nova realidade.
Nos mais diversos setores econômicos, a renovação de processos e de busca por clientes tem sido contínua. Especialistas afirmam que muitas das mudanças provocadas pelo novo coronavírus vieram para ficar, o que ressalta a necessidade de um aperfeiçoamento constante. Uma das áreas que buscou se antecipar a essa tendência foi a indústria. O setor apresentou ao Governo do Estado, por meio de sua federação (Fiesc), o Projeto Travessia, que atuará em quatro frentes: reinvenção da indústria e da economia, investimento em infraestrutura, atração de capital e pacto institucional.
Umas das maiores empresas catarinenses, a WEG é um exemplo de companhia que modificou processos – e por uma causa nobre. Especializada na produção de motores elétricos, a empresa, com sede em Jaraguá do Sul, atendeu a um chamado dos governos federal e estadual para produzir respiradores pulmonares, equipamento essencial para as Unidades de Terapia Intensiva (UTI), local para onde se encaminham os casos graves de insuficiência respiratória causada pela Covid-19.
O primeiro contato da empresa com a administração estadual ocorreu ainda em março, porém a confirmação de que a produção seria possível ocorreu no dia 12 de maio. Desde então, uma operação de guerra foi montada para garantir a produção dos respiradores. Ao todo, 500 deles foram entregues ao Governo do Estado. Para o Ministério da Saúde, a encomenda foi de 950 respiradores, totalizando 1.450 unidades.
Cinco unidades fabris adaptadas para produção de novas peças
Segundo o diretor superintendente da WEG Automação, Mafred Peter Johann, a confirmação da produção dependia da disponibilidade de componentes importados, que estavam escassos no mercado mundial. Ele conta que as dificuldades foram maximizadas quando a empresa decidiu assumir a produção de alguns desses componentes. Ao todo, cinco unidades de diferentes fábricas precisaram ser adaptadas para a produção dos ventiladores. Foram necessárias mudanças nos setores de ferramentaria, injeção de plástico, fabricação de placas eletrônicas, serralheria e montagem de equipamentos eletro-mecânicos.
“Ao final, ainda criamos uma área exclusiva que abriga a linha de montagem e testes finais dos ventiladores. A proposta de fabricação com transferência de tecnologia foi submetida à Anvisa, de quem recebemos a autorização. Em paralelo, estamos realizando todo o processo de certificação eletromédica do Inmetro. Envolvemos mais de 100 colaboradores, de diferentes áreas, na operação. Trabalhamos dia e noite, inclusive aos fins de semana, para alcançar o objetivo”, afirma Johann.
Em junho, o governador Carlos Moisés visitou a linha de produção da WEG e fez um agradecimento aos colaboradores da empresa, ao afirmar que eles não apenas estavam trabalhando em uma linha de produção, mas ajudando a salvar vidas.
A cidade de Luzerna, no Meio-Oeste catarinense, é o lar de uma pequena empresa formada por dois jovens engenheiros autônomos. A Optimum Engenharia nasceu em 2018 e contou com o apoio do Governo do Estado por meio do programa Sinapse da Inovação, desenvolvido pela Fapesc. Além de um aporte financeiro para a estruturação da empresa, os dois sócios também tiveram apoio com cursos e mentorias.
Até o início da pandemia, a empresa estava focada no setor de car tech – criação de ferramentas tecnológicas para automóveis. A principal aposta era o desenvolvimento de um sensor de estacionamento, que auxiliaria o motorista por meio de mensagens de voz na hora de colocar o carro na vaga desejada.
Com o avanço da Covid-19 e o enfraquecimento momentâneo do setor automotivo, os engenheiros pensaram em produzir algo que ajudasse no combate à doença. A primeira ideia, conta Luan Cizeski de Lorenzi, um dos fundadores da Optimum, foi a de criar um colar multissensorial para ajudar na identificação de casos suspeitos. Como o tempo de desenvolvimento seria longo demais, eles decidiram simplificar o projeto com a criação de um sensor automático para medir a temperatura de pessoas que adentrem a determinado ambiente. Ele poderá ser instalado em um totem, por exemplo, sem que um funcionário precise se expor a riscos de contágio ao medir a temperatura dos clientes com um termômetro.
“Nossa ideia é de automatizar esse processo, a fim de evitar riscos de contágio, além de identificar mais facilmente os casos de sobretemperatura, que é um dos sintomas da Covid-19. A pessoa se colocará diante do totem e o sensor, colocado na altura da têmpora, medirá a sua temperatura de maneira automática, Ao todo, foram quase três meses de desenvolvimento, mas agora o produto já está pronto e deve ser lançado ao mercado em breve”, conta Lorenzi.
Os engenheiros pretendem comercializar o produto com estabelecimentos como hospitais, escolas e universidades, com uma capacidade de produção será de 10 a 15 unidades por mês.
Mudança de perfil
O Convenix é uma empresa de Joinville que tradicionalmente mantém relações de negócio com o setor do comércio varejista e suas lojas físicas. O principal serviço oferecido é um aplicativo de convênios que usa o débito em folha. Com os decretos de março para promover o isolamento social em Santa Catarina, o fundador da empresa, Felipe Corrêa da Silva, viu a necessidade de criar novas opções de mercado.
“No início da pandemia, nós nos assustamos bastante, pois dependíamos de uma interação mais física. Nossa base de usuários iria cair com as demissões no varejo. Então decidimos implementar três novas opções. Acredito que a inovação é uma palavra chave para o varejo nesse momento, pois tudo está mudando. A experiência de consumo vai se pautar também por novos canais de venda”, opina Silva.
O portfólio do Convenix ganhou três novos produtos com a pandemia. O primeiro deles foi a criação de uma loja dentro do aplicativo. Com isso, os consumidores podem fazer as suas compras direto por esse canal e recebê-las em sua casa ou empresa, evitando a necessidade de deslocamento. A segunda opção disponibilizada após a pandemia foi a possibilidade de fazer os pagamentos pelo aplicativo por meio de um QR Code, evitando o uso do cartão de crédito e diminuindo os riscos de contágio.
Por fim, Silva afirma que a principal mudança ocorreu pelo fato de a empresa passar a atender também Organizações Não Governamentais (ONGs). As operações ocorrem da seguinte maneira: as ONGs recebem as doações e muitas vezes não tinham como operacionalizar as entregas. Por meio do aplicativo do Convenix e de uma rede conveniada de farmácias e mercados, a ONG repassa um crédito diretamente para a pessoa beneficiada, que usa o aplicativo para comprar as suas necessidades.
“Já atendemos mais de 500 famílias. A ONG fecha conosco e não precisa mais entregar as cestas básicas. Tivemos de mudar a operação inteira da empresa. Antes o nosso foco eram empresas privadas com mais de 100 funcionários. Esse processo facilita para a ONG e também para quem recebe”, destaca Silva
Governador destaca esforço em apoiar economia
Na opinião do governador Carlos Moisés, a economia em transformação é uma vantagem competitiva para Santa Catarina. O chefe do Executivo lembra que o povo catarinense é empreendedor e salienta que as empresas saberão se adequar aos novos tempos.
“Sabemos que há muitas empresas em dificuldades por conta da pandemia. Também tivemos recentemente os efeitos devastadores do ciclone extratropical. O Estado tem buscado dar todo o apoio necessário para que superemos esse período difícil para a economia. Podemos assegurar que não vai faltar determinação por parte da administração estadual”, relata o governador.
O secretário de Estado da Fazenda, Paulo Eli, destacou que, mesmo durante a pandemia, Santa Catarina tem se mostrado atrativa para os investidores. Segundo ele, são recebidas empresas diariamente que mostram interesse em vir para Santa Catarina pelos benefícios fiscais que o Estado possui e pela garantia jurídica.
“Agora precisamos trabalhar junto aos órgãos responsáveis e com parceria do setor privado as alíquotas de impostos de importação, para incentivar a produção catarinense, gerando ainda mais competitividade, renda e emprego no Estado”, afirmou.
As ações do Estado na área econômica durante a pandemia
Assim que o Estado decretou as medidas de isolamento social, foi criado um grupo de trabalho para debater as questões econômicas entre o governo e as entidades empresariais. Segundo o secretário Paulo Eli, a intenção é de manter o diálogo sempre aberto. Pensando no pequeno empresário, o Governo aumentou o valor de empréstimo do Programa Juro Zero, que passou de R$ 3 mil para R$ 5 mil reais por operação para MEIs. De janeiro a junho, 6,8 mil operações já foram realizadas nessa modalidade, somando quase R$ 25,5 milhões em desembolsos.
Ainda na linha de apoio ao microempreendedor, o BRDE disponibilizou R$ 100 milhões de recursos próprios para ajudar as empresas que necessitavam de auxílio emergencial para pagar as contas, salários de funcionários, etc. Uma linha para capital de giro. É a primeira vez que o banco cria uma linha para capital de giro. A linha atende micro e pequena empresa, além e microempreendedor individual (MEI). Os juros são mais baixos do que os praticados normalmente pelo banco. Até o momento, do total disponibilizado, R$ 60 milhões já foram contratados, e outros R$ 29 milhões estão em análise, somando quase mil operações.
O Badesc, outro banco de fomento, também está atuando com uma linha emergencial, que disponibilizou R$ 50 milhões em recursos próprios. Desse total, R$ 22 milhões já foram liberados, R$ 13 milhões contratados, R$ R$ 9 milhões estão em fase de contratação e outros R$ 5 milhões se encontram em análise.
Incentivo para o turismo
Outra linha de crédito foi criada exclusivamente para os empreendedores do turismo. São R$ 37 milhões disponibilizados com recursos do Fungetur e parceria da Santur. Houve ainda, no âmbito do Badesc, a postergação do pagamento de parcelas de empréstimos já contratados, com a adesão de mais de 220 empresas até o momento. A postergação de pagamentos também foi autorizada nos empréstimos contraídos junto ao BRDE – mais de 1,4 mil empresas já tiveram seus contratos renegociados.
Na Secretaria de Estado da Fazenda, foi aprovada logo no começo da pandemia a prorrogação de 90 dias para recolhimento de ICMS e do Imposto Sobre Serviços (ISS) aos contribuintes optantes pelo Simples Nacional, e por 180 dias o diferimento do ICMS e ISS dos microempreendedores individuais (MEIs).
Segundo o secretário Paulo Eli, esse conjunto de ações tem por objetivo aliviar o caixa das empresas em meio aos problemas gerados pela pandemia. Ele salienta ainda que o Estado está discutindo com os poderes a criação de um Fundo Estadual de Garantia de Crédito, que poderá injetar até R$ 1 bilhão na economia catarinense.
Entidades comentam as mudanças ocorridas na economia
Líderes empresariais admitem que a chegada da pandemia a Santa Catarina causou fortes impactos em todos os setores e que será necessária uma adaptação aos novos tempos. Segundo o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, a pandemia impôs uma condição de mudança profunda de comportamento, que vai impactar também os negócios:
“As empresas que se adaptarem ao novo mercado mais rapidamente tendem a sair melhores da pandemia. Essa crise despertou o Brasil para os riscos da dependência externa do processo de manufatura e para a importância de termos uma indústria local forte. Santa Catarina é um estado diferenciado, criativo e inovador e pode receber investimentos e desenvolver e ampliar diversos setores, que hoje são considerados emergentes no estado", analisa.
O presidente da Fecomércio, Bruno Breithaup, conta que uma pesquisa da entidade apontou que aproximadamente 70% das empresas levarão de seis meses a dois anos para se recuperarem dos prejuízos. Ainda assim, ele acredita que o setor do comércio superará as adversidades e diz que conta com o apoio da esfera pública.
“Diante deste cenário sem precedentes, o empresário precisou inovar, se adequar para garantir a sobrevivência dos negócios - seja adotando delivery, e-commerce, concedendo férias coletivas, reduzindo o estoque, etc -, preservando assim o emprego e a renda dos catarinenses. Os últimos 4 meses foram duros para todos. Agora é hora unir esforços para que Santa Catarina possa ter novamente um ambiente de negócios promissor e sustentável”, afirma.
Na avaliação de Jonny Zulauf, presidente da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), “a inovação bateu às portas das empresas dos mais diversos segmentos como o ciclone que passou por Santa Catarina”. Ele relata que uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 83% das empresas veem as mudanças como essenciais ao crescimento.
“Fomos obrigados a desengavetar projetos, criar novos e buscar soluções para não deixarmos nossos negócios naufragarem com uma pandemia sem precedentes. A retomada da economia, muito abalada com os prejuízos causados pela Covid-19, tem na inovação a sua aliada mais forte. E não são apenas nas ações que foram tomadas nos primeiros dias, mas em todo o processo, desde o home office até a mudança nos parques fabris e no atendimento presencial. Tivemos que buscar processos inovadores para nos adaptarmos ao novo normal. Seja por imposição, ou por vontade, sabemos que a inovação é essencial para as empresas e é ela que fará a construção de um novo mundo, muito mais desenvolvido e sustentável”, opina Zulauf.
Fonte: Governo de Santa Catarina
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Secom
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