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O pensamento e a prática de Romero Rodrigues

Joinville tem caractarísticas capazes de torná-la uma das cinco cidades digitais do País. Quem garante é Romero Rodrigues, uma das principais lideranças e referências na área digital do Brasil e com inúmeros vínculos profissionais com expoentes do setor mundo afora. Ele é um dos fundadores do BuscaPé, maior empresa de comércio eletrônico da América Latina.
Romero, que também é membro do conselho de administração da Neogrid, esteve em Joinville nesta semana. Na cidade, ministrou a palestra A cultura do fracasso durante o lançamento do Prêmio Joinville de Inovação, realizado na Associação Empresarial (Acij) no dia 22. A entrevista a seguir une o conteúdo da sua fala de 40 minutos na exposição e de entrevista exclusiva concedida à coluna Livre Mercado no mesmo dia, no restaurante do Hotel Tannenhof.

Fracasso

A inovação tem de estar na base da organização. É comum que, com o crescimento, os empresários se afastem do consumidor. Isso é um problema. Nesta hora, o time não pode ter medo do fracasso. No Brasil, o fracasso é terminal. Não deveria ser tão pesado. O medo te tira do foco. A dor da escolha errada é três vezes maior do que a da certa.

Pilares

A inovação é um dos três principais desafios das companhias. Os outros dois são a manutenção da cultura e atrair e manter talentos. O ativo real é o talento humano que você tem na empresa. A cultura passa por três fatores: comunicação clara, transparência e respeito. Um profissional talentoso quer, primeiro, autonomia e ter a chance de trocar conhecimentos para aumentar o aprendizado.

O começo

O BuscaPé Company atua em toda a cadeia de negócios digitais. No início, com software pronto, visitamos várias lojas perto de casa. Há 15 anos, ninguém falava preço de mercadorias por telefone. Aí, não deu certo. E a empresa “morreu” pela primeira vez. Depois de muitas tentativas, em 1º de junho de 1999 colocamos o site para operar.

Não atenda ao telefone – Aviso aos empreendedores iniciantes: quando você é pequeno e o telefone tocar, não atenda. É sempre problema. O ano de 2001 foi o da bolha da internet e... novo fracasso. No ano seguinte, decidimos fechar a empresa se não atingíssemos o resultado previamente definido. Em setembro daquele ano, conseguimos o ponto de equilíbrio econômico-financeiro. E fomos adiante. Compreendemos que o poder do consumidor deve ser total. É a essência do negócio do BuscaPé. Ter uma ideia boa só se justifica se ela for implementada.

Empreendedores

Os empreendedores têm de ter três características comportamentais: resiliência (dispostos a receber seguidos “nãos” até conseguir uma resposta afirmativa para seus planos e suas ideias); consistência (abrir um negócio próprio é um sonho e deve ser dividido com os sócios); e lidar com o fracasso (têm de estar preparados, flertar com o fracasso e desafiar o status quo).

Premiar experiências

A inovação precisa de percepção – e, aí, de movimento, de ação. A cultura corporativa deve permitir o fracasso. É necessário premiar as experiências. Lembre-se: não é o mais forte que sobrevive, e sim aquele que melhor se adapta às mudanças. Você deve se permitir ao fracasso.

Compra assistida

As compras no mundo físico serão auxiliadas por um assistente de compras digital. Será pelo celular que se farão as compras. O varejo que se moderniza vai deixar de ser um tirador de pedido para se tornar um consultor a orientar os clientes. Já há redes fazendo isso.

Patentes

O Brasil ainda engatinha quando o assunto é pesquisa e desenvolvimento de patentes. A patente de processos é a mais importante e não está bem definida na legislação brasileira. O Google comprou a Motorola só por causa das 5 mil patentes que tinha para manter o Android. Pagaram bilhões de dólares.

Rapidez

O que foi decisivo para o BuscaPé é que nós aprendemos rápido a fazer o que era necessário. Os empreendedores devem saber que parte do conhecimento pode ser complementada com uma equipe talentosa. Bem no começo de nossa história, peitamos um varejista que queria nos processar. Ainda nem tínhamos CNPJ.

Joinville

Infraestrutura e talentos são vetores a possibilitar campo fértil para uma cidade se consolidar como cidade digital. Joinville tem potencial a ser explorado. É importante destacar os talentos humanos que tem. A sua pluralidade dos negócios e da sua economia se assemelha a poucas cidades brasileiras.

Online

Na área de pagamentos online, quando entramos para comprar em loja pequena, parece o Velho Oeste. Na compra online, o vendedor é o responsável se acontecer algum erro, e não a operadora de cartão de crédito. Nós, do BuscaPé, criamos então o Bcash. Em até 14 dias, entregamos o produto e repassamos o dinheiro para o vendedor.

Diferencial

Três fatores nos ajudaram a encontrar o sucesso: a sorte de acharmos o timing certo de entrar no mercado de tecnologia; a consistência – não nos seduzimos a fazer mais coisas do que fizemos; e o projeto não começou pensando em investimentos. Hoje, uma loja com negócio de R$ 50 é melhor para nós do que uma outra, de R$ 1 milhão, há 15 anos.

Escolhas

É essencial escolher quem é o seu competidor. Brigue com quem é parecido com você e foque na prestação de serviços.

Reputação

Cerca de 80% das ofertas de varejo tinham serviços ruins. Isso é inadmissível. No BuscaPé, há, agora, metade das lojas do que havia há 18 meses. Nos primeiros cinco anos de nossos negócios, o cliente queria preço. Agora ele quer conveniência. Hoje, ter reputação é mais importante do que a marca. É fundamental atender ao cliente em prazo de entrega e em promessas feitas. O clique vai para a loja com preço justo, não necessariamente para a loja com o menor preço.

Onda digital

Meu neto não vai compreender que o jornal impresso e o iPad conviveram ao mesmo tempo, no começo do século 21. Daqui a 20 anos, 99% do tráfego será mobile. A economia da mobilidade vai se beneficiar do crescimento dos negócios digitais. Tudo por celular. Vai sumir o checkout de pagamento de compra feita. Os aplicativos virão também para o Brasil, em breve, para isso desaparecer. A comprovação de compra será automática, eletrônica, instantânea. Isso vai aumentar o consumo. Conveniência é o que o consumidor quer.

Polo digital

A favor de Joinville ainda há o ambiente empreendedor e uma indústria de TI que já formou muitos engenheiros, há mais de 20 anos. Joinville tem muitas possibilidades de se tornar um polo de tecnologia significativo. Florianópolis tem requisitos para o empreendedorismo como um todo. Campinas (SP) criou condições favoráveis ao surgimento e desenvolvimento de startups. Recife tem o porto digital. Belo Horizonte tem o São Fernando Valley. Rio de Janeiro e São Paulo são os polos naturais em função dos mercados. Joinville poderá ser uma das cinco cidades digitais do Brasil.

Os melhores

Um bom profissional quer trabalhar com outro pelo menos do mesmo nível de qualidade. Neste caso, empresas pequenas podem estar na frente. A razão é simples: os melhores querem deixar legado.
Fonte: A Notícia – Claudio Loetz – 31/08