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A espiral da dívida pública nacional

Por Anderson Ramos Augusto e Sérgio Luiz da Silva

Publicado em 24/11/2025
A espiral da dívida pública nacional

Em meio aos recentes acontecimentos que sacudiram o País nos últimos dias, uma notícia simplesmente não pode passar despercebida: a dívida pública federal atingiu R$ 8,145 trilhões em agosto. Esse incremento de 1,59% frente ao apurado no mês anterior, longe de ser episódico, integra uma trajetória estrutural de descontrole orçamentário que denota a incapacidade do Poder Público de executar ajustes fiscais significativos. O cenário é particularmente preocupante quando se considera que, simultaneamente, o Estado opera mecanismos que, na prática, transferem esse ônus para os brasileiros através de elevação de taxas de juros, compressão de crédito e elevação da carga tributária efetiva, penalizando sobremaneira aqueles que, em última análise, impulsionam o desenvolvimento econômico.

Para os associados da CDL de Florianópolis, essa dinâmica traduz-se em custos de financiamento proibitivos e volatilidade macroeconômica que inviabiliza planejamento estratégico de médio e longo prazo. A taxa Selic elevada—necessária para conter a inflação decorrente do déficit público—funciona como mecanismo de estrangulamento direto. Ou seja, empresas veem suas linhas de crédito encarecidas, capital de giro direcionado para aplicações financeiras de menor risco e investimentos em expansão, modernização e inovação completamente desestimulados. O resultado disso é a paralisia de ciclos de investimento produtivo, com reflexos imediatos na geração de empregos e renda.

A ausência de reformas estruturais e de um plano de ajuste fiscal crível amplifica essa paralisia. Enquanto o governo federal empurra para o além a tomada de decisões urgentes sobre as despesas obrigatórias, o mercado precifica permanentemente o risco de insolvência, mantendo prêmios de risco elevados nas taxas de juros. Para surpresa de zero pessoas, isso cria um ciclo vicioso: (1) mais dívida demanda mais juros, (2) juros mais altos comprimem o crescimento, (3) crescimento reduzido gera receitas fiscais menores e, consequentemente, mais déficit. O empresariado fica enredado nesse turbilhão, financiando indiretamente a dívida pública através de custos de capital amplificados e volume reduzido de crédito disponível.

Os associados enfrentam, portanto, um grave cenário de viabilidade macroeconômica progressivamente deteriorada. Na ausência de um compromisso claro do governo com a austeridade fiscal, pautada na redução estrutural da despesa pública sem apelar para a eterna solução fácil de arrecadação de tributos custe o que custar, as perspectivas de recuperação econômica permanecem comprometidas. O empresariado continuará sendo o amortecedor de choques fiscais mal gerenciados, arcando com o custo de oportunidade de investimentos não realizados e empregos não gerados. Sem uma urgente mudança de rota, a espiral será inexorável.

Francamente, não aguentamos mais.

Anderson Ramos Augusto
Advogado da CDL de Florianópolis e Gerente Jurídico da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina; processualista civil com área de concentração no Direito do Consumidor

Sérgio Luiz da Silva
Economista e empresário; ex-Diretor Financeiro e atual Conselheiro Fiscal da CDL de Florianópolis (gestão 2025-2026)

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